terça-feira, 27 de abril de 2010

Daninhas, casulos e realejo

Ao olhar o título desse post, você deve se perguntar porque diabos a insana dona desse blog juntou três palavras que não tem nada que ver uma com a outra.E eu te digo: dessa vez, caro leitor , não fui eu que decidi se combinava, mas sim Rosana Palazyan.A exposição dela reúne elementos à primeira vista impensáveis de serem análogos, contudo graças à sua abordagem, ganham papéis contíguos.
A arquiteta e ex-estudante da Escola de Artes Visuais do Parque Lage restabeleceu à Casa França-Brasil uma das antigas funções do centro cultural  através de seu planejamento de ocupação e usufruto.Remontando aos tempos de que era uma praça de comércio e posteriormente uma alfândega, durante os quais circulavam uma grande quantidade de transeuntes, foi conferido ao estabelecimento maior possibilidade de integração das salas e liberdade aos visitantes, tipo de técnica conhecida como site especific art – a arte trabalhada para ressaltar as características e utilidades de um lugar.
A mostra possui quatro obras e reserva também um cômodo à parte para expor o processo de criação de Rosana por meio de anotações, fotos, xerox e recortes de jornais.A primeira chama-se O Realejo.Nesta seção utiliza-se uma vídeoinstalação que projeta imagens do senhor Antonio com o seu periquito, o qual retira do realejo mensagens proferidas por moradores de rua do Rio de Janeiro e de São Paulo entrevistados por Palazyan durante um trabalho com eles executado por ela a partir de meados dos anos 1990.O instrumento sonoro que não mais integra a paisagem urbana relembra a infância da artista, assim como traduz os anseios, pensamentos e preocupações da população desabrigada e pouco ouvida.
O Jardim das daninhas, constituído de plantas indesejadas que tomam as cercanias das espécies “normais”, foi maquinado com o intuito de surtir dúvidas e reflexões a respeito do que é ser daninha, uma vez que qualquer vegetal pode ser considerado dessa forma, bastando apenas estar em um ambiente errado. Estes conceitos se adéquam perfeitamente à realidade dos mendigos das grandes cidades, já que estes não são bem quistos e sim extirpados da sociedade.
Bordados de cabelo sobre tecidos e plantas daninhas dessecadas são os materiais básicos usados em Por que daninhas?.As madeixas em forma de raiz reproduzem frases definidoras dos inços de livros de astronomia.
A metamorfose da lagarta em borboleta se transmuta em metáfora para retratar a mudança para melhor da vidas dos moradores de rua na série No lugar do outro, baseada em relatos dos mesmos.Casulos de pano mostram-se pregados na parede e alguns já abertos apresentam desenhos das linhas das mãos de pessoas que reverteram o jogo, deixaram a situação de transparência e miséria da sarjeta para a dignidade.Tudo respira mudança.
Para montar a exibição, foram feitas pesquisas em livros de botânica e conversas com especialistas e aplicadas 13 mil mudas nos canteiros temporários da casa. Mais do que exageros em números, Rosana explodiu em suavidade e abstração para retratar assuntos delicados que assolam o cotidiano de muitos, costurando significados, oximoros e metáforas entre objetos e situações aparentemente desconexas.
Tive a sorte de apreciar, junto com outras pessoas que se situavam no local, uma explicação da exposição com a presença da própria Rosana Palazyan, sem nem ter sabido sobre a sua aparição naquele dia. Mera obra do acaso (ou seria do destino, do Ser...). Quer melhor?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Neonônimo

Eu sinto que devo mudar o nome do presente blog.Mas para qual? Aceito sugestões.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A catarse e a metamorfose

Quase que diariamente eu sofro catarses. A gente se policia tanto, se comprime pra dar em um espaço ocasional, mas vem uma situação inusitada e te alarga. Quando menos espero algo acontece. É incrível a capacidade que a vida tem de te pregar peças.

É alguém que aparece e que você não esperava. É uma pergunta que te penetra e você nem tinha escudo pra se defender. Uma opinião que você nunca pensara ser proferida logo naquela hora.

Sim. Pra mim isso são catarses. A catarse de Aristóteles, aquela que te faz por os males e os bens para fora. Tudo. Te faz repensar certas concepções que você pensou serem inabaláveis.É quase um vômito da alma.

E é engraçado que hoje eu presenciei uma exposição que tinha uma composição que expunha uma visão um pouco sobre metamorfose, sobre o ciclo de vida da borboleta, retratado de uma forma sutil, com cores pálidas, mas deixar sem de se vestir de uma verdade muito forte: mudança que é natural em todo ser vivo ou não-vivente, que acontece desde uma borboleta, mudança essa que é tão marcante e perceptível, até uma pedra, que sofre a erosão do tempo (tempo meteorológico que age dentro de um intervalo de tempo cronológico infinito) e que não estabelece uma transformação mais imediata.

Mas tenho consciência que essas tramas da vida são necessárias. Eu sei que na hora não acho tão oportuno, mas depois penso: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...” .Aí degluto novos pensamentos e opiniões, até que eu expurgue novamente aquilo que já não me serve.

Sejamos, então, senhores, metamorfoses ambulantes.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Hell de Janeiro

É inacreditável como uma cidade como o Rio de janeiro, uma das mais belas do mundo, ainda sofra com os estragos ocasionados pelas chuvas torrenciais ocorridas recentemente. Isso acontece há anos e nada tem sido feito desde sempre.
Troca-se de governantes, mas não se troca de atitude em relação aos problemas sofridos pelo carioca. Sabe-se que a região, naturalmente vítima de intempéries justamente por se situar em uma área de choque entre massas de ar, sofrerá eternamente impactos. Porém, não necessariamente esses impactos devem traduzir-se em mortes.
O que se vê é um descaso de todos que se converteu em barbaridades. Eu reitero: descaso de TODOS. Por parte do cidadão, que mesmo sabendo que não se deve jogar lixo em bueiros, na rua, em córregos e rios, insiste nesse ato sem se preocupar que da próxima vez pode ser ele que tenha os seus pertences perdidos, conseguidos com o esforço da luta diária. Pior é quando a consequência atinge quem cumpre o seu papel direitinho como cidadão. E por parte das autoridades eleitas por nós, que possuem ciência dos ciclos naturais que castigam a cidade e, no entanto continuam inertes diante da situação, apenas limitados a reparar os estragos que se repetem. Não adianta chamar a Comlurb para limpar a lama que toma as ruas nem o reboque para retirar os carros que se amontoam e obstruem o fluxo de veículos. Isso tudo são medidas paliativas. O correto é impor as medidas preventivas.
Todo esse redemoinho vem afligir a mente dos cariocas, como se não bastassem os causos já enfrentados, como a violência urbana, a crise do transporte e os buracos espalhados pelo calçamento.
Assim como existe uma grande mobilização das pessoas para se combater a dengue, através de publicidades intermitentes nos diversos meios de comunicação, visita de agentes sanitários nas residências e panfletos explicativos distribuídos em diversos lugares, urge em ser feito o mesmo para as enchentes e deslizamentos de terra: propaganda pesada para cima da população e programas escolares que incentivem uma postura civilizada das crianças, os ditos futuros cidadãos, assim como investimento em construção de moradias para aqueles que se encontram em área de risco ( atualmente, só se efetiva essa espécie de habitação quando se sucedem catástrofes;depois que tudo passa, volta à mesma).A limpeza dos canais de escoamento, que cabe ao Estado,  também não pode deixar de ser executada, com o devido acompanhamento feito pelos principais interessados,os habitantes do Rio.
Eu acompanhava a cobertura jornalística pela televisão dos lamentáveis acontecimentos e foi suscitada por um repórter mais ou menos a seguinte pergunta: "e o que acontecerá durante as Olimpíadas de 2016?”. Ação é a melhor palavra para eliminar essa pergunta e acabar com iminentes dúvidas. Os acontecimentos da natureza ninguém pode prever, porém a tomada de decisões que viabilizam um extraordinário megaevento são mais do que possíveis, são necessárias.