Ao olhar o título desse post, você deve se perguntar porque diabos a insana dona desse blog juntou três palavras que não tem nada que ver uma com a outra.E eu te digo: dessa vez, caro leitor , não fui eu que decidi se combinava, mas sim Rosana Palazyan.A exposição dela reúne elementos à primeira vista impensáveis de serem análogos, contudo graças à sua abordagem, ganham papéis contíguos.
A arquiteta e ex-estudante da Escola de Artes Visuais do Parque Lage restabeleceu à Casa França-Brasil uma das antigas funções do centro cultural através de seu planejamento de ocupação e usufruto.Remontando aos tempos de que era uma praça de comércio e posteriormente uma alfândega, durante os quais circulavam uma grande quantidade de transeuntes, foi conferido ao estabelecimento maior possibilidade de integração das salas e liberdade aos visitantes, tipo de técnica conhecida como site especific art – a arte trabalhada para ressaltar as características e utilidades de um lugar.
A mostra possui quatro obras e reserva também um cômodo à parte para expor o processo de criação de Rosana por meio de anotações, fotos, xerox e recortes de jornais.A primeira chama-se O Realejo.Nesta seção utiliza-se uma vídeoinstalação que projeta imagens do senhor Antonio com o seu periquito, o qual retira do realejo mensagens proferidas por moradores de rua do Rio de Janeiro e de São Paulo entrevistados por Palazyan durante um trabalho com eles executado por ela a partir de meados dos anos 1990.O instrumento sonoro que não mais integra a paisagem urbana relembra a infância da artista, assim como traduz os anseios, pensamentos e preocupações da população desabrigada e pouco ouvida.
O Jardim das daninhas, constituído de plantas indesejadas que tomam as cercanias das espécies “normais”, foi maquinado com o intuito de surtir dúvidas e reflexões a respeito do que é ser daninha, uma vez que qualquer vegetal pode ser considerado dessa forma, bastando apenas estar em um ambiente errado. Estes conceitos se adéquam perfeitamente à realidade dos mendigos das grandes cidades, já que estes não são bem quistos e sim extirpados da sociedade.
Bordados de cabelo sobre tecidos e plantas daninhas dessecadas são os materiais básicos usados em Por que daninhas?.As madeixas em forma de raiz reproduzem frases definidoras dos inços de livros de astronomia.
A metamorfose da lagarta em borboleta se transmuta em metáfora para retratar a mudança para melhor da vidas dos moradores de rua na série No lugar do outro, baseada em relatos dos mesmos.Casulos de pano mostram-se pregados na parede e alguns já abertos apresentam desenhos das linhas das mãos de pessoas que reverteram o jogo, deixaram a situação de transparência e miséria da sarjeta para a dignidade.Tudo respira mudança.
Para montar a exibição, foram feitas pesquisas em livros de botânica e conversas com especialistas e aplicadas 13 mil mudas nos canteiros temporários da casa. Mais do que exageros em números, Rosana explodiu em suavidade e abstração para retratar assuntos delicados que assolam o cotidiano de muitos, costurando significados, oximoros e metáforas entre objetos e situações aparentemente desconexas.
Tive a sorte de apreciar, junto com outras pessoas que se situavam no local, uma explicação da exposição com a presença da própria Rosana Palazyan, sem nem ter sabido sobre a sua aparição naquele dia. Mera obra do acaso (ou seria do destino, do Ser...). Quer melhor?
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